Siríaco e Mister Charles, do cabo-verdiano Joaquim Arena, editado pela Quetzal, foi anunciado vencedor durante a cerimônia na Sala Vermelha do Itaú Cultural, pelo Embaixador de Portugal no Brasil, Luís Faro Ramos, que, em seguida, puxou uma conversa online com o autor. Já o presidente da Fundação Itaú, Eduardo Saron, anunciou O gosto amargo dos metais, da suíça naturalizada brasileira Prisca Agustoni, editado pela 7 Letras. Na sequência, ele chamou  a poeta ao palco e lhe deu a palavra.

 

O encontro, que pode ser assistido aqui, foi conduzido pela atriz Fernanda D’Umbra e teve performance da slammer Luz Ribeiro e apresentação do escritor Santiago Nazarian, jurados desta edição do Prêmio. Selma Caetano, diretora da Oceanos Cultura, responsável pela gestão da premiação, abriu a cerimônia.

 

Estiveram presentes, ainda, o Cônsul-Geral de Portugal em São Paulo, António Pedro Rodrigues da Silva, a Diretora do Instituto Camões no Brasil, Alexandra Pinho, o superintendente do Itaú Cultural, Jader Rosa, além de jurados da premiação e dos poetas brasileiros finalistas Claudia Roquette-Pinto, Guilherme Gontijo Flores e Prisca Agustoni.

 

“O Prêmio Oceanos é um trabalho coletivo constante de promoção da língua portuguesa, e existe para colocar os leitores diante da produção literária da geração contemporânea de escritores do idioma – geração esta que é muito bem representada pelos 10 livros finalistas de 2023” diz Selma. “Títulos que, sem exceção, nos arrancam da imobilidade ao reconhecer e denunciar traumas passados e recentes, e apontar novas perspectivas”, completa.

 

“A cada edição percebemos um amadurecimento do Oceanos, ainda mais próximo do que pensamos desde o início: promover um real e efetivo intercâmbio entre editores e autores dos países de língua portuguesa. O resultado em 2023 fortalece este propósito”, diz Jader Rosa, superintendente do Itaú Cultural. “A novidade desta edição – dividir as categorias entre prosa e poesia, com dois júris diferentes para avaliar os inscritos – é mais um passo nessa direção.”

 

Júri

 

Para chegar ao resultado de prosa, um júri composto pelos brasileiros André Sant'Anna, Eliane Robert Moraes, José Castello, Schneider Carpeggiani, pelo moçambicano Nataniel Ngomane e pela portuguesa Clara Rowland leu os cinco romances finalistas. O júri para chegar à vencedora  de poesia, foi formado pelos brasileiros Célia Pedrosa, Maria Esther Maciel, Tatiana Pequeno e pelos portugueses Carlos Mendes de Sousa e Golgona Anghel, que também leram as obras dos cinco finalistas de poesia. Ao todo, participaram do processo de avaliação 159 jurados de quatro diferentes países. A lista completa está disponível aqui.

 

Além do livro vencedor, os finalistas de poesia foram Alma Corsária, de Cláudia Roquette-Pinto (34), Diário da encruza, de Ricardo Aleixo (Segundo selo), Entre costas duplicadas desce um rio, de Guilherme Gontijo Flores (Ars et Vita), O gosto amargo dos metais, de Prisca Agustoni (7Letras) e Paraíso, de Pedro Eiras (Assírio & Alvim).

“Os livros de poesia finalistas desta edição do Oceanos trazem uma característica comum à produção contemporânea de dialogar com a tradição e, ao mesmo tempo, lançar cada vez mais um olhar crítico para questões sociais e políticas, em uma confluência de rigor estético e ético”, diz Manuel da Costa Pinto, curador do Oceanos no Brasil, que também esteve presente na cerimônia.

 

Os finalistas de prosa apresentados pelo escritor Santiago Nazarian foram A história de Roma, de Joana Bértholo (Caminho), A última lua de homem grande, de Mário Lúcio Sousa (Dom Quixote), Misericórdia, de Lídia Jorge (Dom Quixote) e Naufrágio, de João Tordo (Companhia das Letras Portugal).

“Entre os finalistas de prosa, é de ressaltar a diversidade temática e de estilo. Destes temas tidos como urgentes na atualidade, como o lugar da mulher no mundo, o envelhecimento ou ou o abuso, a assuntos mais universais onde se incluem o lugar da memória, a herança coletiva o confronto entre visões diferentes do mundo ou a ideia de viagem enquanto constitutiva da ideia de literatura”, observa Isabel Lucas, curadora do Oceanos em Portugal. “Do experimentalismo de alguns livros, ao formato mais canónico de outros, sobressai ainda a procura de novas formas de linguagem capazes de transpor uma inquietação muito deste tempo”, conclui ela.

 

Os vencedores

 

O gosto amargo dos metais, de Prisca Agustoni

 

A obra nasce do impacto dos crimes ambientais ocorridos em Minas Gerais, primeiro em Mariana e depois em Brumadinho, em que uma avalanche de lama de rejeito de mineração destruiu bairros inteiros, tirou centenas de vidas e tingiu de marrom o rio doce, um dos mais importantes do Brasil. “As imagens terrificantes que circularam me lembraram uma tragédia de proporções épicas, como se o mundo estivesse vivendo um novo fim – e, paradoxalmente, um estranho recomeço”, diz a autora no prefácio do livro.

Prisca Agustoni (1975) é poeta, tradutora e professora de literatura na faculdade de Letras na Universidade Federal de Juiz de Fora. Nascida na Suíça e vivendo no Brasil, escreve e se autotraduz em italiano, francês e português. Suas publicações mais recentes são Un ciel provisoire, Casa dos ossos, animal extremo, O mundo mutilado, L’ora zero e Língua sommersa. 


 

Síriaco e Mister Charles, de Joaquim Arena

 

O livro conta a história de uma amizade ficcional entre dois personagens reais. De um lado, o jovem cientista Charles Darwin. De outro, Siríaco, um desconhecido homem negro, ex-escravizado, que nasceu no Brasil, foi educado em Portugal e, por ter a pele marcada por vitiligo, integrou a chamada “corte exótica” da Rainha Dona Maria I, composta ainda por indígenas e pessoas com nanismo. No romance, os dois se encontram em Cabo Verde (e aqui tudo já é ficção), lugar em que Siríaco decidira viver após ancorar na Ilha de Santiago com a família real durante a fuga de 1807, e onde Darwin passou 16 dias no início de suas investigações naturalistas que teriam como resultado o livro A Origem das Espécies.


Joaquim Arena é escritor e formado em Direito, em Lisboa. Nascido na Ilha de São Vicente, em Cabo Verde, é filho de pai português e mãe cabo-verdiana. Foi assessor do presidente Jorge Carlos Fonseca até 2021. A Verdade de Chindo Luz foi o seu primeiro romance, depois publicou Debaixo da Nossa Pele, um ensaio-reportagem sobre os seus antepassados, escravos e trabalhadores livres nos campos de arroz do Vale do Sado.